
Dançarina Lia Rodrigues, da Companhia de Danças, formada por moradores de favelas do Rio de Janeiro, recebe destaque por "realizações extraordinárias na interseção da cultura e da religião". A dançarina e assistente social brasileira Lia Rodrigues receberá o Prêmio Arte e Cultura 2021 na categoria dança, concedido pela Conferência dos Bispos Alemães e pelo Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK). Esta é a primeira vez que o prêmio é conferido nesta categoria.
Segundo o júri, Lia se destacou por "realizações extraordinárias na interseção da cultura e da religião". Na cerimônia de premiação, o discurso de louvor foi proferido pelo diretor-geral da Deutsche Welle, Peter Limbourg.
Ativista contra a discriminaçãoA artista e sua Companhia de Danças das favelas do Rio de Janeiro dançam com "raiva e ternura contra o totalitarismo e pela humanidade", anunciou a Conferência dos Bispos Alemães. A premiada se vê como uma "dissidente artística e ativista contra a discriminação cotidiana no Brasil".
O prêmio dotado de 25 mil euros é a mais alta premiação da Igreja Católica no setor cultural. Ele vem sendo concedido a cada dois ou quatro anos, de forma alternada, desde 1990.
Lia é uma das iniciadoras do Centro de Artes, que fica na favela da Maré
Rodrigues fundou a companhia de dança inicialmente para dançarinos formados em academias, mas em 2004 a abriu para dançarinos talentosos das favelas. Ela iniciou o Centro de Artes da Maré e a Escola Livre de Dança, onde todos os dançarinos treinam e ensaiam juntos. A pandemia de covid-19 atingiu especialmente as favelas brasileiras e também a companhia de dança de Rodrigues. "O dinheiro do prêmio pode ajudar a compensar várias apresentações internacionais canceladas e a preparar novas produções para o pós-epidemia", disse Lia Rodrigues.
O júri, presidido pela estudiosa de dança e teatro Gabriele Brandstetter, elogiou Rodrigues por combinar "uma magnífica obra de dança artística com um compromisso humanitário decorrente de uma profunda crença no poder transformador da dança".
Dança é educação, diz LiaEm suas peças, ela aborda "a luta pela dignidade humana e pelos direitos humanos em cenas poderosas e sensoriais do imaginário barroco". As peças de dança "surgem da comunidade com os mais pobres, com os excluídos pelo racismo e pela discriminação". Ela entende a dança como uma forma básica de educação humana "que é para todos".
Lia nasceu em 1956 em São Paulo, onde estudou balé clássico, e cursou história na USP. Em 1977, foi uma das fundadoras do grupo independente de dança contemporânea Andança. Entre 1980 e 1982, participou da Compagnie Maguy Marin, na França. De volta ao Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fundou a Companhia de Danças em 1990.
Fonte: DW Brasil
