O Papa Francisco publicou neste sábado (23), uma Mensagem para o LV Dia Mundial das Comunicações Sociais e agradeceu aos jornalistas pela coragem e determinação em mostrar os abusos e injustiças contra os pobres, além de retratar a realidade nestes tempos de pandemia.
“Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. É o encontro daquilo que mais marca o desafio lançado pelo Papa aos jornalistas. Serem capazes de assumir a frase do Evangelho de João: “Vem e verás”, tal como “a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia”.
“O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver. Uma curiosidade, uma abertura, uma paixão. Temos que agradecer à coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas. Seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade”, afirma o Papa.
Atenção aos mais pobres
Segundo Francisco, há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos dos mais ricos, como na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, com a exclusão dos menos favorecidos.
“Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expectativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real”, disse o pontífice, alertando para que a distribuição das vacinas não obedeça a uma lógica de lucro.
Web: Oportunidades e perigos
O Papa acredita que a web “pode multiplicar a capacidade de relato e partilha” apontando “muitos mais olhos abertos sobre o mundo”.
“A tecnologia digital dá-nos a possibilidade de uma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos” - assinala Francisco.
"Graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos”. Mas, existem também perigos e riscos como o de uma “comunicação social não verificável”. As imagens podem ser manipuláveis sendo necessária “uma maior capacidade de discernimento”.
“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controle que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos somos chamados a ser testemunhas da verdade”.
Nada substitui o ver pessoalmente
Apesar das facilidades da web, o Papa salienta que “algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as”. “O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar”.
O Santo Padre desafia os comunicadores cristãos a usarem o método utilizado na difusão da “boa nova do Evangelho” através de “encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite”.
“Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrônicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal”, escreve o Papa lembrando S. Paulo.
O Papa Francisco conclui a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2021 com uma oração:
"Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos,
e partir à procura da verdade.
Ensinai-nos a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, a não cultivar preconceitos,
a não tirar conclusões precipitadas.
Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.
Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas
no mundo e a honestidade de contar o que vimos."
Fonte: Rebecca Borges, ShowCatólico.com // Vatican News
Foto: Vatican Media