
MÚSICA E VOCAÇÃOMiguel Angelo | Papo com o Músico
Certa feita, perguntou o pregador a seu público que, embebido, estava imerso em atenção: “Qual o primeiro mandamento da Lei de Deus?” O povo ouvinte, quase em uníssono, respondeu sem pestanejar “Amarás o Senhor Teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma, com todas as tuas forças”.
Era tudo o que o experiente anunciador da Palavra desejava escutar naquele momento. Imediatamente, então, ele abriu o Livro do Deuteronômio, emitindo uma tréplica como quem dava um definitivo xeque-mate: “Não, meus queridos. Não, se levarmos em conta o imperativo divino bíblico que precede todos os mandamentos: ‘Ouve, Israel’.”
E não é que o nosso pregador tem lá sua razão? Pois a vocação, além de um chamado, é também resposta. E como responder ao que não se escuta? Melhor: como responder a quem não se escuta?
O problema é tão antigo quanto a própria humanidade: o ser humano propõe perguntas, perguntas e mais perguntas. Poucos, porém, são os dispostos a buscar as respostas necessárias. Queremos respostas fáceis para problemas difíceis. E quase sempre, que sejam outros a colocarem em prática.
O bom músico possivelmente tem também um bom ouvido. Sabe ouvir a si, os instrumentos, o silêncio, os tons, os sons. Os “sims” e os “nãos”. O “talvez”, igualmente. Esse bom ouvido musical é um bom treinamento para o músico. Digo mais: para a vida cristã.
Se músico católico, ele precisará ouvir outras realidades, além das musicais. Ouvirá a Igreja, os padres, os documentos eclesiais, a vida, o povo. A vida, o cotidiano. As dores e alegrias. A existência. Ouvir. A Deus. Sempre e a partir de Jesus. Em comunhão eclesial.
Quantas pessoas possuem suas vidas embaladas por canções. Padres, de diversas épocas e lugares, carregam em seu peito, certamente, a música de suas ordenações sacerdotais.
Cada casal, igualmente, tem a música de suas vidas. Muitas vezes, embalando o matrimônio e renovando os passos no caminho. Tantas e tantas vezes. Basta ouvir e… voilà! Ela os toca ainda hoje.
Cada canto ungido transcende tempo e lugar, e é um chamamento divino à uma Vida mais plena e profunda.
Tocando as cordas da nossa alma.
Hoje, quero convidar VOCÊ, querido músico, a enquanto me lê, para se lembrar de sua própria vocação. Como ela surgiu? Quais foram suas referências? Qual pessoa foi fundamental para que hoje você ainda estivesse de pé, em louvor e cantando a Deus? Quais seus desafios e conquistas? Sonhos e projetos? Medos e esperanças?
Qual a música da sua vida? Aquela que você sente Deus chamando?
Saiba: você não é apenas importante pelo que você faz mas, principalmente, pelo que você é: filho e filha muito amado, amada, de Deus. Experimentar isso é devolver cantando ao Criador Suas Maravilhas, enquanto caminhamos. Como fazer isso, sem continuamente renovarmos nossa escuta vocacional?
Que do seu coração musical possa jorrar rios de Água Viva em forma de canções e música, muita música, para saciar a sede de muitos corações. A começar dos nossos.
Nunca duvide: há um chamado. Uma vocação. E uma escuta.
Bora atualizar hoje nossa resposta? Estamos juntos nessa, viu?
Abração.
Miguel Angelo Cantor católico, membro da MCRJ (Música Católica Rio de Janeiro). Participante da Pastoral da Música, na matriz de São Sebastião do Cocotá, na Ilha do Governador - RJ. Teólogo, Filósofo e Mestrando em Educação pela PUC-Rio.
MIGUEL ANGELO CASTELO GOMES
Cantor católico, membro da MCRJ (Música Católica Rio de Janeiro). Participante da Pastoral da Música, na matriz de São Sebastião do Cocotá, na Ilha do Governador - RJ. Teólogo, Filósofo e Mestrando em Educação pela PUC-Rio.
MIGUEL ANGELO CASTELO GOMES