O Papa Francisco, no último sábado (20), fez uma visita surpresa à casa da escritora húngara de quase 90 anos, Edith Bruck, sobrevivente da época nazista.
Comovido com a história de Edith, publicada no final de janeiro pelo L'Osservatore Romano, o papa declarou:
"Eu li a sua entrevista, que conta o horror que a senhora e a sua família viveram durante o tempo da perseguição nazista, e fiquei muito impressionado. Por isso, pedi para poder me encontrar com a senhora e visitá-la em sua casa."
Edith Bruck dedicou a sua vida a testemunhar o que ela viveu. Foram dois desconhecidos, cuja última voz ela recolheu no campo de concentração de Bergen-Belsen, que lhe pediram para fazê-lo: "Relate tudo, eles não acreditarão em você, mas se você sobreviver, conte, também por nós”. E ela cumpriu a sua promessa. O que nos impressiona, ao ler os episódios descritos na entrevista, é o olhar de esperança que Edith consegue transmitir. Mesmo quando ela fala dos momentos mais sombrios, do abismo do horror em que, quando criança, foi mergulhada, perdendo grande parte da sua família, nunca deixa de fixar o seu olhar em algo belo e bom, em alguma pitada de humanidade que lhe permitiu continuar a viver e a ter esperança.
Assim, ao descrever a vida no gueto depois de ter sido arrancada juntamente com os seus pais e irmãos da casa na aldeia rural onde vivia, eis que fala de um homem não hebreu que dá de presente uma carroça cheia de mantimentos para ajudar os perseguidos. Ao falar do seu tempo de trabalho em Dachau a cavar trincheiras, eis que se recorda de um soldado alemão que lhe atira a sua marmita para lavar, "mas no fundo ele tinha deixado uma pouco de marmelada para mim". E enquanto descreve o seu trabalho nas cozinhas para os oficiais, eis que aparece a figura do cozinheiro, que lhe perguntou qual era o seu nome e ao ouvir a resposta de Edith, com voz trémula, respondeu: "tenho uma filha da sua idade". Dizendo isto, "tirou um pente do bolso e olhando para a minha cabeça com os cabelos que estavam crescendo, deu-me de presente. Foi a sensação de encontrar um ser humano à minha frente, depois de tanto tempo. Fiquei comovida com aquele gesto que era vida e esperança". Alguns gestos são suficientes para salvar o mundo, conclui Edith Bruck, que recebeu em sua casa o Bispo de Roma.
Papa Francisco com Edith (Vatican News)
Ao se despedir, o Papa pronunciou as seguinte palavras:
“Vim aqui para lhe agradecer pelo seu testemunho e para prestar homenagem ao povo mártir da loucura do populismo nazista. E com sinceridade lhe repito as palavras que proferi, do meu coração, no Yad Vashem, e que repito perante todas as pessoas que, como a senhora, sofreram tanto por causa disto: perdão Senhor, em nome da humanidade.”
Após a surpresa, em entrevista ao Vatican News, Edith descreveu a visita do papa como inimaginável e emocionada disse:“Eu chorei assim que ele chegou. Abracei e beijei ele".
A entrevista com Edith BruckR - Ainda estou em choque positivo. Conversamos por um longo tempo. Ele disse que havia lido o meu livro, citando muitas partes. O Papa chegou às 16h e saiu por volta das 18h. Foi um encontro inexplicável. Ainda estou emocionada. Chorei assim que ele chegou. Abracei e beijei ele. Era uma coisa muito bonita e, com uma voz trêmula, apresentei as poucas pessoas que estavam em casa. O Papa também falou sobre a Shoah. Pediu perdão pessoalmente. Ele falou um pouco da Argentina. Fiquei tão impressionada, que não conseguia pronunciar uma palavra corretamente.
V.News - Qual é a sensação de receber o Papa Francisco na própria casa?R - Não podia imaginar uma coisa assim. Quando o vi na porta, desandei a chorar. Ele também me abraçou. Estávamos os dois cheios de emoção. Não havia como conter a emoção.
V.News - O abraço do Papa Francisco foi paternal?R - Sim, de fato, disse: somos irmãos.
R - O Papa comeu um bolo com ricota. Preparei uma bela poltrona com almofadas. E, então, lhe dei uma poesia minha que ele apreciou muito. Estávamos todos atônitos. Foi verdadeiramente um encontro inimaginável. Ele ficou quase duas horas. Foi uma coisa incrível vê-lo em casa. Fiquei muito emocionada.
V.News - Vamos recordar aqueles horrores vividos no campo de concentração de Auschwitz, onde a senhora conheceu o mal absoluto. Mas mesmo naquela escuridão, viveu momentos de luz.R - Sim, contei isso ao Papa. Eu chamo de as cinco luzes. Eu lhe contei sobre as cinco luzes. O Papa disse que sabia de tudo. E lembrava do meu livro quase linha por linha.
V.News - E também lembrou o Papa que naquele período dramático houve também um pequeno gesto cheio de vida. Foi feito por um cozinheiro....R - Eu também contei esse episódio. O Papa também lembrava disso. No campo de concentração em Dachau, um cozinheiro me disse: qual é o seu nome? E me presenteou um pente. O Papa recordou o episódio do pente. Enquanto conversávamos, o Papa e eu estávamos na mesma linha humana.
V.News - Os seus pais e um dos seus irmãos não sobreviveram. A senhora disse que foi salva por causa da sua irmã...R - Ela me ajudou muito. Acredito que sem mim, ela não teria sobrevivido. Sem ela, eu também não teria sobrevivido. Ela era quatro anos mais velha do que eu. Me apoiava. Ela pegou inclusive coletes que eu não conseguia mais arrastar. É claro, nós nos apoiamos mutuamente. Agora, infelizmente, ela se foi. Ela desmaiou quatro vezes e eu gritava: não me deixe! Já passei por coisas alucinantes. Tudo o que vivi não pode ser contado nem escrito em mil livros. Não se pode descrever a dor, a indignação moral. Nunca se poderá contar tudo, mesmo que eu não faça outra coisa que contar e escrever.
V.News - Por falar em contar e recordar, um soldado alemão que separou a senhora da sua mãe ao chegar no campo de concentração, na verdade, salvou a sua vida... R - Sim, isso aconteceu logo na chegada. Eu estava com a minha mãe. Eles tinham me conduzido com a minha mãe ao crematório do lado esquerdo. Mas o último soldado alemão tinha sussurrado e me disse para ir à direita. Naquele momento, eu não entendia o que ele queria dizer. Eu me agarrei à carne de minha mãe. Eu não queria deixá-la. Finalmente, o soldado, não sabendo como nos separar, bateu na minha mãe com um fuzil. Ela caiu e eu nunca mais a vi. Ele também me bateu e me arrastou até que eu estivesse do lado direito. Eu não sabia que naquele momento ele estava tentando me salvar.
V.News - Hoje, a senhora compartilhou algumas dessas lembranças com o Papa Francisco. Um dia indelével que cicatriza a memória com a esperança....R - O Papa também ficou muito triste com esses inocentes que foram aniquilados. Mas há sempre esperança. Há sempre uma pequena luz, mesmo na escuridão total. Sem esperança, não podemos viver. Nos campos de concentração, bastava um alemão olhando para você com um olhar humano. Bastava um gesto. Bastava um olhar humano. Eles me deram uma luva com furos, me deixaram um pouco de geleia na marmita. Ali estava a vida, dentro. Aquela é esperança.
Fonte: Rebecca Borges, ShowCatólico.com // Vatican NewsFoto: Vatican News

Após a surpresa, em entrevista ao Vatican News, Edith descreveu a visita do papa como inimaginável e emocionada disse:
“Eu chorei assim que ele chegou. Abracei e beijei ele".
A entrevista com Edith Bruck
R - Ainda estou em choque positivo. Conversamos por um longo tempo. Ele disse que havia lido o meu livro, citando muitas partes. O Papa chegou às 16h e saiu por volta das 18h. Foi um encontro inexplicável. Ainda estou emocionada. Chorei assim que ele chegou. Abracei e beijei ele. Era uma coisa muito bonita e, com uma voz trêmula, apresentei as poucas pessoas que estavam em casa. O Papa também falou sobre a Shoah. Pediu perdão pessoalmente. Ele falou um pouco da Argentina. Fiquei tão impressionada, que não conseguia pronunciar uma palavra corretamente.
V.News - Qual é a sensação de receber o Papa Francisco na própria casa?
R - Não podia imaginar uma coisa assim. Quando o vi na porta, desandei a chorar. Ele também me abraçou. Estávamos os dois cheios de emoção. Não havia como conter a emoção.
V.News - O abraço do Papa Francisco foi paternal?
R - Sim, de fato, disse: somos irmãos.
R - O Papa comeu um bolo com ricota. Preparei uma bela poltrona com almofadas. E, então, lhe dei uma poesia minha que ele apreciou muito. Estávamos todos atônitos. Foi verdadeiramente um encontro inimaginável. Ele ficou quase duas horas. Foi uma coisa incrível vê-lo em casa. Fiquei muito emocionada.
V.News - Vamos recordar aqueles horrores vividos no campo de concentração de Auschwitz, onde a senhora conheceu o mal absoluto. Mas mesmo naquela escuridão, viveu momentos de luz.
R - Sim, contei isso ao Papa. Eu chamo de as cinco luzes. Eu lhe contei sobre as cinco luzes. O Papa disse que sabia de tudo. E lembrava do meu livro quase linha por linha.
V.News - E também lembrou o Papa que naquele período dramático houve também um pequeno gesto cheio de vida. Foi feito por um cozinheiro....
R - Eu também contei esse episódio. O Papa também lembrava disso. No campo de concentração em Dachau, um cozinheiro me disse: qual é o seu nome? E me presenteou um pente. O Papa recordou o episódio do pente. Enquanto conversávamos, o Papa e eu estávamos na mesma linha humana.
V.News - Os seus pais e um dos seus irmãos não sobreviveram. A senhora disse que foi salva por causa da sua irmã...
R - Ela me ajudou muito. Acredito que sem mim, ela não teria sobrevivido. Sem ela, eu também não teria sobrevivido. Ela era quatro anos mais velha do que eu. Me apoiava. Ela pegou inclusive coletes que eu não conseguia mais arrastar. É claro, nós nos apoiamos mutuamente. Agora, infelizmente, ela se foi. Ela desmaiou quatro vezes e eu gritava: não me deixe! Já passei por coisas alucinantes. Tudo o que vivi não pode ser contado nem escrito em mil livros. Não se pode descrever a dor, a indignação moral. Nunca se poderá contar tudo, mesmo que eu não faça outra coisa que contar e escrever.
V.News - Por falar em contar e recordar, um soldado alemão que separou a senhora da sua mãe ao chegar no campo de concentração, na verdade, salvou a sua vida...
R - Sim, isso aconteceu logo na chegada. Eu estava com a minha mãe. Eles tinham me conduzido com a minha mãe ao crematório do lado esquerdo. Mas o último soldado alemão tinha sussurrado e me disse para ir à direita. Naquele momento, eu não entendia o que ele queria dizer. Eu me agarrei à carne de minha mãe. Eu não queria deixá-la. Finalmente, o soldado, não sabendo como nos separar, bateu na minha mãe com um fuzil. Ela caiu e eu nunca mais a vi. Ele também me bateu e me arrastou até que eu estivesse do lado direito. Eu não sabia que naquele momento ele estava tentando me salvar.
V.News - Hoje, a senhora compartilhou algumas dessas lembranças com o Papa Francisco. Um dia indelével que cicatriza a memória com a esperança....
R - O Papa também ficou muito triste com esses inocentes que foram aniquilados. Mas há sempre esperança. Há sempre uma pequena luz, mesmo na escuridão total. Sem esperança, não podemos viver. Nos campos de concentração, bastava um alemão olhando para você com um olhar humano. Bastava um gesto. Bastava um olhar humano. Eles me deram uma luva com furos, me deixaram um pouco de geleia na marmita. Ali estava a vida, dentro. Aquela é esperança.