Por que a Igreja se preocupa com a comunicação?
Diácono Alan Galvão | ARQRIO
Muitos, talvez, sejam aqueles que se questionam acerca da relação entre Igreja e comunicação, a ponto de, neste ano jubilar, ter acontecido na cidade eterna o Jubileu da Comunicação.
A comunicação sempre foi uma necessidade para a Igreja. Desde os primeiros tempos do cristianismo, a transmissão da fé dependia do testemunho oral e escrito dos discípulos e dos primeiros missionários. A tradição apostólica, os evangelhos e as cartas paulinas são exemplos claros de como a Igreja sempre precisou comunicar para evangelizar. Hoje, em um mundo interconectado, a necessidade de uma comunicação eficiente é ainda mais urgente.
A Igreja não comunica apenas informações, mas uma mensagem que transforma vidas. No entanto, para que essa mensagem chegue com clareza e profundidade aos corações das pessoas, é preciso uma comunicação bem estruturada e adaptada aos tempos atuais. Isso significa que a Igreja deve se preocupar tanto com a forma quanto com o conteúdo de sua comunicação. O desafio é grande: como falar de Deus de maneira acessível e autêntica em um mundo repleto de vozes concorrentes?
A comunicação eclesial precisa ser, ao mesmo tempo, institucional e personalizada. Ou seja, deve seguir critérios organizacionais para ser eficiente, mas sem perder o tom humano, próximo e caloroso, que faz com que as pessoas se sintam parte da Igreja. Um dos grandes desafios da comunicação na Igreja hoje é justamente equilibrar esses dois aspectos.
A comunicação da Igreja não nasce de uma necessidade administrativa, mas de sua própria identidade teológica. Deus é um Deus que se comunica. Desde a criação do mundo, Ele se revelou à Humanidade, primeiro por meio da natureza, depois pelos patriarcas e profetas, e, por fim, de maneira plena, por meio de Jesus Cristo.
A Carta aos Hebreus resume essa ideia ao dizer: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente, nos falou por meio do Filho” (Hb 1,1- 2). Ou seja, a revelação de Deus à Humanidade se dá através da comunicação, e Jesus Cristo é a própria comunicação do Pai, a Palavra que se fez carne.
Isso significa que a Igreja, como continuadora da missão de Cristo, precisa comunicar com fidelidade e eficácia a mensagem do Evangelho. Se a comunicação é essencial para Deus, também deve ser essencial para a Igreja.
No mundo atual, uma boa comunicação não acontece por acaso. Ela exige planejamento, estrutura e capacitação. A Igreja precisa entender que comunicar-se bem não é apenas um luxo, mas uma necessidade pastoral.
No contexto paroquial, por exemplo, muitas comunidades ainda não compreendem a importância de uma Pastoral da Comunicação (Pascom) bem organizada. A Pascom não pode ser vista apenas como um grupo que tira fotos e administra redes sociais, mas como um ministério essencial para a evangelização. Quando bem estruturada, essa pastoral ajuda a integrar a liturgia, a catequese e a vida comunitária, garantindo que a mensagem da Igreja alcance o maior número possível de fiéis.
Além disso, a comunicação eclesial não pode ser improvisada. A Igreja precisa investir em formação para seus comunicadores, seja no âmbito paroquial, seja nos meios de comunicação institucionais. Isso inclui desde a capacitação técnica até a reflexão sobre a ética e a espiritualidade da comunicação.
Um dos desafios da comunicação eclesial é encontrar o equilíbrio entre ser institucional e ser personalizada. A Igreja é uma instituição com mais de dois mil anos de história, e precisa se comunicar de maneira oficial e organizada. No entanto, essa comunicação não pode ser fria e distante.
O Papa Francisco tem insistido muito na necessidade de uma comunicação que privilegie o encontro e a escuta. Em diversas ocasiões, ele destacou que a evangelização não acontece apenas por meio de grandes discursos, mas principalmente pelo contato humano, pelo olhar, pelo diálogo.
Uma comunicação muito impessoal pode afastar as pessoas. É por isso que, mesmo sendo uma instituição, a Igreja precisa aprender a falar de maneira próxima, acolhedora e sensível às dores e alegrias das pessoas. Isso se aplica tanto às redes sociais quanto à comunicação litúrgica e catequética.
Um dos grandes problemas da comunicação eclesial hoje é que muitos católicos se informam sobre a Igreja por meio de veículos de comunicação seculares. Jornais, portais de notícias e canais de televisão frequentemente abordam temas eclesiais, mas muitas vezes o fazem de maneira parcial ou sensacionalista.
Isso gera um problema grave: muitos fiéis têm uma visão distorcida sobre o que realmente acontece na Igreja. Muitas notícias enfatizam crises, conflitos e polêmicas, enquanto as inúmeras ações pastorais, sociais e missionárias da Igreja passam despercebidas.
O fato de muitos católicos não acompanharem as redes oficiais da Igreja mostra que há uma falha na comunicação eclesial. O desafio é criar conteúdos que sejam, ao mesmo tempo, fiéis à doutrina e atraentes para o público.
Isso exige que a Igreja invista em profissionais capacitados e crie estratégias de comunicação eficientes. Redes sociais, sites, podcasts, transmissões ao vivo e outras mídias digitais precisam ser melhor aproveitadas para que a informação correta chegue ao povo de Deus.
Todos os anos, o Papa publica uma mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Neste ano, a mensagem enfatizou a necessidade de desarmar a comunicação, especialmente em tempos de polarização e desinformação.
O Papa Francisco destacou que comunicar bem não é apenas falar, mas ouvir. A Igreja precisa ser um espaço de acolhimento, onde as pessoas possam expressar suas dúvidas e inquietações sem medo de julgamento. Isso é especialmente importante no ambiente digital, onde muitas discussões se tornam agressivas e intolerantes, ao invés de gerar esperança.
Se a Igreja não estiver presente nas redes sociais com uma comunicação clara e acessível, outros ocuparão esse espaço e poderão distorcer a mensagem do Evangelho. Por isso, a Igreja precisa assumir com mais seriedade sua missão de comunicar a fé também no ambiente digital.
O Jubileu da Comunicação, celebrado em janeiro deste ano, reforçou a importância da comunicação para a vida da Igreja. No contexto do Jubileu Ordinário, esse evento destacou o compromisso da Igreja em evangelizar através dos meios de comunicação.
Foram promovidos encontros e formações sobre inteligência artificial, ética na comunicação e o papel das mídias digitais na evangelização. Essa celebração foi um chamado para que a Igreja invista ainda mais em sua presença no mundo da comunicação.
O Jubileu também recordou que a comunicação não é apenas institucional, mas testemunhal. O Evangelho se comunica mais pela vida do que pelas palavras. Uma comunicação eficaz na Igreja deve estar sempre ligada a um testemunho autêntico de fé.
A comunicação é essencial para a missão da Igreja. Desde os tempos de Jesus até os dias atuais, a evangelização depende da capacidade de transmitir a mensagem de forma clara, acessível e verdadeira.
No mundo digital, a Igreja tem um grande desafio: comunicar-se com eficiência sem perder sua identidade e seu caráter pastoral. Para isso, precisa investir em uma comunicação bem estruturada, que seja ao mesmo tempo institucional e personalizada.
Se a Igreja deseja alcançar seus fiéis e evitar que a informação sobre ela seja dominada apenas por meios seculares, deve fortalecer sua presença nos diversos canais de comunicação. Afinal, comunicar bem não é apenas uma estratégia, mas um compromisso com a missão de levar Cristo ao mundo.