O casaco de lã burel tem sido utilizado por religiosos em diversas congregações há séculos. Esse tecido de ponto cruz, áspero e longo, surgiu na Idade Média e era conhecido por sua baixa qualidade e preço modesto. Originalmente usado por indigentes na confecção de casacos de peregrinos com capuz a partir do século XIII, o burel possui uma cor indeterminada, variando entre marrom, vermelho-tijolo e bege.
Foi nessa época que os frades capuchinhos adotaram o burel como seu hábito religioso, complementando-o com um cinto de três nós, que simbolizava os votos de pobreza, castidade e obediência, e um par de sandálias.
Essa tradição remonta a São Francisco de Assis, que escolheu essa vestimenta como um sinal de renúncia à vida mundana e burguesa em favor de uma vida de pobreza. Como filho de uma família rica em Assis, sua escolha pelo burel foi significativa, considerando sua criação na opulência e no conforto dos tecidos coloridos.
O termo "burel" refere-se a lãs pretas, marrons ou cinzas, embora sua etimologia ainda seja debatida. Na Vita, a primeira biografia de São Francisco escrita por Tomás de Celano em 1228, descreve-se o simbolismo moral e espiritual atribuído ao burel pelo santo quando ele o vestiu publicamente, marcando seu rompimento com sua vida anterior. São Francisco preparou uma túnica áspera que trazia a imagem da cruz, simbolizando a rejeição de imaginações demoníacas, a crucificação de seus próprios vícios e pecados, além de sua simplicidade que o mundo não poderia cobiçar.
Na Idade Média, o burel também foi utilizado por comerciantes para cobrir suas mesas de trabalho, pois o tecido era resistente a manchas e permitia alisar as superfícies. Essa prática deu origem à palavra "bureau" (escritório), que passou a designar o ambiente de trabalho em geral.
Embora o burel tenha desaparecido dos catálogos de tecelões, alguns produtores ainda trabalham com esse tecido pesado, que é reservado para ordens religiosas que mantêm a tradição de usar esse casaco. Além disso, figurinistas em teatros e óperas preservam a memória desse humilde tecido, mantendo-o presente nos palcos, onde séculos de oração em mosteiros lhe conferiram um status nobre.
Rebecca Borges, ShowCatólico.com
Fonte: Aleteia